MANIFESTO
Em apoio às lutas e mobilizações populares no Centro Oeste brasileiro
contra o modelo hegemônico na região
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Nós, educadoras e educadores populares que construímos a Rede de
Educação Cidadã no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal e Goiás,
manifestamos nosso total e incondicional apoio às lutas populares desencadeadas
na região contra o modelo político, social e econômico dominante.
Reafirmamos
nosso compromisso com as lutas e construção do Poder Popular no Brasil,
potencializando as lutas desencadeadas na região e participando de sua
construção como exercício de cidadania, a partir dos nossos processos de
formação e busca incessante pela unidade das organizações de luta da classe
trabalhadora. Neste sentido apresentamos as seguintes bandeiras de luta à
população do centro-oeste:
1-
Por
Reforma Agrária, contra o novo código florestal e contra o uso criminoso de
agrotóxicos;
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A terra na
região centro oeste é concentrada nas mãos de poucas famílias. Os latifúndios
dos históricos coronéis se modernizaram transformando-se em empresas. Hoje o
setor é chamado de agronegócio, mas continua gerando riquezas para poucas
pessoas, explorando o trabalho de camponeses que não tem terra para produzir,
produzindo poucas culturas em larga escala (soja, cana, milho, sorgo, capim, etc.),
em geral, para exportar ou para alimentação animal. Sua finalidade é o lucro, e
não a produção diversificada de alimentos saudáveis como quer que acreditemos a
Confederação Nacional da Agricultura (entidade que representa os interesses dos
grandes empresários da terra). Tanto que 70% do alimento produzido no país vêm
das pequenas propriedades da agricultura familiar e camponesa segundo dados do
censo agropecuário divulgado pelo IBGE em 2006 e retificados em 2009.
Infelizmente
nos últimos anos a reforma agrária saiu da pauta do Governo Federal, pouco se
avançou no assentamento de novas famílias, bem como nas políticas voltadas para
as famílias assentadas. O ano de 2011 foi o pior, para o processo de reforma
agrária, dos últimos 16 anos. Somado ao crescente apoio ao agronegócio percebemos
que o governo não assumiu uma política de reforma agrária de fato.
Historicamente
no Centro-Oeste, temos governos ligados ao agronegócio, não existe por parte
dos Estados da região quase nenhuma política efetiva de apoio a agricultura
familiar e camponesa, as que existem são insuficientes. Por outro lado há um
processo de intensificação da criminalização daqueles que lutam por um pedaço
de terra como mostra os dados sobre conflitos no campo levantados pela Comissão
Pastoral da Terra.
O
Centro-Oeste brasileiro é a região símbolo do agronegócio, e isso não seria
possível sem o apoio incondicional dos governos estaduais e federal nas suas
três esferas – Executivo, Legislativo e Judiciário. Lutar por reforma agrária é
lutar por uma política de inclusão social de fato, é lutar por outro modelo
agrícola pautado na agroecologia, é lutar pela produção saudável de alimentos,
é lutar pela democratização do acesso a terra, é lutar pela proteção ambiental,
por isso damos nosso total apoio à luta por reforma agrária e repudiamos
qualquer ação de paralisação da mesma.
Modelo agrícola Pautado na destruição
ambiental
O modelo
agrícola brasileiro e, sobretudo na região Centro-Oeste tem devastado o nosso
Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e Floresta Amazônica. A recente aprovação
pelo Congresso Nacional de alterações no código florestal, mostra que o
Legislativo, na sua maioria, quer continuar apoiando esse modelo de devastação
e destruição ambiental. Mesmo com os vetos parciais da presidente Dilma, as
alterações feitas no código florestal são um retrocesso para a questão
ambiental no Brasil. Sobretudo no ano em que sediamos a RIO+20.
Agrotóxico mata! Todo apoio a
campanha permanente contra os agrotóxicos
O Brasil é
o campeão mundial no uso de agrotóxicos, “Na safra 2010/2011, o Brasil
comercializou mais de um bilhão de litros de agrotóxicos, sem contar os
comercializados ilegalmente que em regiões agrícolas, tais como os estados de
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e o Paraná, são de uso muito comum” (ABRASCO). Isso é o
reflexo do modelo agrícola brasileiro pautado na monocultura e grande
concentração de terra. No entanto, sabemos que os agrotóxicos são prejudiciais tanto
para o meio ambiente como para as pessoas que se alimentam com comidas
contaminadas por agrotóxicos ou que vivemos próximos a regiões de grandes
lavouras.
Pesquisas
realizadas no Mato Grosso mostraram que o leite já vem contaminado com
agrotóxicos, além de vários outros casos de trabalhadores/as que adoeceram ou
morreram pelo contato com o agrotóxico.
Os
ruralistas defendem que o único jeito de produzir alimentos para o mercado
interno e para exportação é envenenando as lavouras. Ou seja, dizem que a
maioria da população só pode se alimentar se for com veneno. A preocupação
deles não é com a saúde da população ou pela questão ambiental, mais sim de
permanecerem obtendo lucros exorbitantes. Nós apoiamos totalmente a luta contra
os agrotóxicos por entendermos que isso é uma questão de saúde pública. E reafirmamos
a necessidade de outro modelo agrícola brasileiro pautada na produção
diversificada de alimentos e na agroecologia, sem o uso de agrotóxicos e
agressões ao meio ambiente.
"Sonha
e serás livre de espírito... Luta e serás livre na vida. "
(Che Guevara)
(Che Guevara)
Lutar é direito, lutar não é
crime! Abaixo a criminalização dos movimentos sociais que lutam por direitos.
A falta de
políticas públicas que atendam as necessidades da população deve ser tratada
como caso de política e não de policia. No Centro Oeste temos
assistido continuamente ataques aos direitos humanos, sobretudo daqueles que
ousam a se levantar contra esse modelo de exploração.
A
violência no campo tem aumentando assustadoramente, em 2011 teve um aumento de
15% dos conflitos no campo em relação a 2010 segundo dados da Comissão Pastoral
da Terra, fruto da impunidade daqueles que mandam ou cometem esses crimes. No
Centro-Oeste temos acompanhado a luta dos povos indígenas, que tiveram suas
terras usurpadas pelos latifundiários com o apoio do braço armado do estado. Vemos
ações de extermínio dos povos indígenas com massacres sendo realizados sob a
tutela do estado. Entre 2003 e 2010 foram assassinados 499 indígenas no Brasil.
Hoje a cerca de 750 indígenas presos e outras 60 lideranças respondem a processos
segundo relatório apresentado pela CNBB.
Repudiamos
com veemência qualquer ação de criminalização daqueles que lutam por direitos,
sendo que essas lutas são reflexos da ausência de um estado que atendam as
necessidades de todos e não apenas de alguns grupos. Dizemos não ao massacre
dos povos indígenas e a usurpação de suas terras como também dizemos como o
Che: – “Os poderosos podem matar uma, duas ou até três rosas, mais já mais vão
conseguir deter a primavera inteira”.
2-
Não a
privatização dos bens públicos, a corrupção, e a crescente especulação
imobiliária.
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Temos visto na região Centro Oeste uma crescente ação por parte dos
governos de plantão de entrega dos bens públicos a interesses privados. A
receita é simples, sucateiam os hospitais, postos de saúde, as escolas e
creches, estradas, o setor de saneamento e de energia entre outros e depois
como desculpa de que vai melhorar a gestão passa tudo isso para mão da
iniciativa privada.
Mas,
sabemos que é apenas uma desculpa para tirar das costas do estado suas
obrigações com o discurso de que vai melhorar. Na prática não há nenhuma
melhora, ao contrário, é só mais um meio de desviar recursos públicos para
interesses de grupos privados. Exigimos a paralisação do processo de entrega
dos bens públicos para iniciativa privada, assim como apoiamos todas as lutas
contra o processo de privatização dos governos da região.
Contra a corrupção, por uma reforma do sistema
político já!
Da mesma
forma funcionam os esquemas de corrupção. O apoio financeiro nas campanhas
compromete os candidatos eleitos com seus “patrocinadores”. Quando eleitos se
tornam sócios. No recente episódio do Cachoeira foi desvelado um enorme esquema
de envolvimento do Governo de Goiás com o criminoso dos caça-níqueis, e o
objetivo é sempre: mais lucro.
Neste
sentido, somos contra o financiamento privado de campanhas. Assim como dizemos
não aos governos de empresários que não representam os interesses do povo. E
gritamos por uma reforma do sistema político já!
A especulação imobiliária e as obras da copa. Copa
sim, a qualquer custo não!
Várias
famílias estão sendo jogadas de suas casas para construção de obras de
infra-estrutura para a copa do mundo de 2014, assim como a especulação
imobiliária que cada vez mais tem expulsado as trabalhadoras e trabalhadores
para periferia. As obras que estão sendo feitas não são discutidas com a
população e servem mais para encher os bolsos de empreiteiras e especuladores de
dinheiro.
Repudiamos
totalmente essa ação governamental em obediência aos interesses empresariais.
Solidarizamos com as famílias que vem sofrendo essas remoções criminosas como
também damos nosso total apoio à resistência dos comitês populares da copa.
Defendemos a formulação de políticas de combate à especulação imobiliária e a
implementação concreta do Estatuto das Cidades.
Fortalecer um projeto anticapitalista para
construção do poder popular
Entendemos que a construção de um Projeto Popular no Centro-Oeste passa
pelo fortalecimento das lutas populares, a organização popular e a denuncia do
modelo hegemônico de produção e exploração. Para tanto, é fundamental
fortalecermos um projeto anticapitalista em nossa região, pois a exploração, as
desigualdades sociais, a apropriação da riqueza pelas elites, a falta de
políticas públicas democráticas que atendam a necessidade da população, o
modelo agroexportador, são inerentes a esse sistema, assim como o incessante
ataque aos direitos da classe trabalhadora e a corrupção que assola a região.
Por tanto
para superar tudo isso é de fundamental construir outro modelo de sociedade
pautado na solidariedade de classe, na busca da superação das desigualdades
sociais.
Por fim,
fazemos um chamado à unidade da classe trabalhadora, a todas e todos que são
explorados e subjugados pela ordem vigente a se levantarem pelos seus direitos,
se organizando e mobilizando contra os ataques a classe trabalhadora.
“Quando o campo e a cidade se unir – A burguesia não vai resistir”
“O povo que ousa sonhar, constrói o poder popular.”
REDE DE EDUCAÇÃO CIDADÃ – CENTRO-OESTE
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