terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Audiência pública contesta modelo de terceirização de serviços da Saneago





Público lota auditório do MP para discutir terceirização na Saneago
 
Participantes da audiência pública promovida hoje (1°/2) pelo Ministério Público sobre a terceirização de serviços de esgotamento da Saneago nos municípios de Rio Verde, Jataí, Aparecida de Goiânia e Trindade questionaram a real necessidade da providência e o modelo proposto pela empresa, que, inclusive, acaba de publicar edital abrindo licitação.

Com participação expressiva de entidades e profissionais da área técnica, promotores de Justiça com atribuição de defesa do consumidor e do patrimônio público, além de titulares das comarcas envolvidas e convidados, público que lotou o auditório, foram apresentadas pontualmente as fragilidades da proposta e as consequências para os consumidores, os municípios envolvidos e para a própria empresa.

Mediado pelo coordenador do Centro de Apoio Operacional do Consumidor, Érico de Pina Cabral, o debate contou também com a participação do presidente da Saneago, Nilson Freire, e diretores do órgão; os prefeitos de Rio Verde e Jataí, Juracy Martins e Humberto de Freitas, e representantes do Executivo municipal de Anápolis e Trindade, além do secretário das cidades, Igor Montenegro, representando o governo estadual.

Estiveram presentes no evento ainda a deputada federal Marina Santana, o deputado estadual Bruno Peixoto; o procurador do MP de Contas do TCE, Fernando Carneiro; e representação do Sinduscon, do Clube de Engenharia, do Crea-GO, da Agiag, do Stiueg e do Conselho Regional do Serviço Social de Goiás, entre outros.

A discussão do tema promovida pelo MP teve também o respaldo do procurador-geral de Justiça, Benedito Tores Neto, que esteve presente no auditório no início da reunião.

O debate

Um dos primeiros a abordar o tema foi o coordenador do Centro de Apoio Operacional do Consumidor Érico de Pina Cabral, apresentando o resultado de seus estudos sobre o tema. Ele explica que a Saneago pretende elevar o atendimento dos serviços de esgotamento a 90%, num prazo de cinco anos, argumentando que somente com a participação de capital privado poderia alcançar essa meta. Outra justificativa seria a de que as prefeituras poderiam retomar a concessão dos serviços.

Para o promotor, um ajuste nesses índices, com pequena dilatação dos prazos para cumprimento do cronograma seria o suficiente para que a própria Saneago executasse os serviços, sem necessidade de dispor do patrimônio público. Por outro lado, o promotor apontou uma série de cláusulas ilícitas no modelo de contrato. “Há itens ilícitos por serem abusivos e extremamente prejudiciais, ferindo o equilíbrio da relação jurídica. Tudo favorece a empresa”, observou Érico de Pina, lembrando a necessidade de que as discussões devem ser aprofundadas para que haja transparência nas negociações pretendidas, sugerindo também a democratização do debate para os técnicos. Ainda na esfera contratual, o promotor destacou os prejuízos que a medida acarretará tais como a entrega do controle de receitas, de tecnologia, quebra do subsídio cruzado, entre tantos outros.

Na sequência, o coordenador do Centro de Apoio Operacional do Patrimônio Público, Umberto Machado, reconheceu a importância de implantação do sistema de esgotamento nas cidades, mas alertou para o fato de que é preciso saber como fazer isso sem importar lesão ao patrimônio público. “Partilho da preocupação já evidenciada pelo coordenador da área do consumidor”, afirmou Umberto Machado, adiantando que estará atento para a adoção das medidas necessárias em defesa do patrimônio público.

O promotor de Justiça Fernando Krebs também informou que, em outubro último, o MP recebeu representação sobre o tema, já externando a preocupação de entidade classista sobre a questão. Para Krebs, o contrato de terceirização é, na verdade, uma forma de privatizar a empresa e está eivado de nulidades. Ele lembrou casos recentes na história de Goiás em que gestores, por recomendação do MP, tiveram a “grandeza” de anular licitações em andamento, em razão de irregularidades.

Associação dos Engenheiros da Saneago (Ases) também se posicionou durante os debates. De acordo com seus representantes, foi elaborado um documento, aprovado em reunião extraordinária da entidade, que exprime o receio de que a privatização pretendida poderá acarretar o desequilíbrio estrutural da empresa, manifestando também a discordância do modelo apresentado. Para a entidade, há alternativas técnicas e viáveis para os municípios.

O diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Urbana de Goiás (Stiueg), Washington Fraga, lembrou que na audiência pública convocada pela Saneago, em dezembro, o MP já havia apontado vários equívocos no contrato. “Em nome da transparência, pedimos a suspensão da licitação e que haja um grande debate sobre a questão do saneamento, não apenas nessas quatro cidades, mas de todo o Estado”, sugeriu o dirigente sindical.

prefeito de Jataí, ao ouvir todas as ponderações, reafirmou a necessidade de melhoria e ampliação dos serviços de abastecimento e esgotamento sanitário para o município, afirmando, entretanto, que não irá assinar o contrato, caso permaneçam as cláusulas abusivas.

A Associação Brasileira de Engenharia Santária e Ambiental - Seção Goiás, pela sua presidente Lívia Dias, destacou que o modelo apresentado de terceirização de serviços não foi discutido, nem apresentado estudo comparativo entre as demais possibilidades. Apesar de não ser contra a entrada de recurso privado, ressaltou a necessidade da discussão. Ela lembrou ainda que a retirada de grandes municípios como Rio Verde e Jataí do sistema poderá comprometer o atendimento da Saneago aos remanescentes.

Da mesma forma, a gerência de fiscalização do Crea apontou o modelo como inadequado. Para o órgão, a medida implicará o aumento das tarifas. A entidade convidou a Saneago a colocar à disposição para as entidades técnicas o estudo que levou a empresa a este modelo.

O presidente da Saneago teve a palavra franqueada por diversas vezes para as réplicas, informando ter encaminhado ao MP o modelo final do contrato, com as correções apontadas pela coordenação do CAO Consumidor.

Érico de Pina afirma que vai estudar o novo documento apresentado, devendo se reunir com a direção da empresa na próxima semana para análise conjunta do modelo de contrato. “Precisamos debater ainda mais o tema, nem que para isso seja necessária a prorrogação dos prazos estabelecidos. Não podemos deixar que a Saneago tenha o mesmo desfecho que tiveram o BEG, a Caixego e a Celg”, alerta o promotor.
(Texto: Cristiani Honório - Fotos: Isabela Dias / Assessoria de Comunicação Social do MP-GO) 
 

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Mesa diretiva reuniu entidades 

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