quarta-feira, 19 de março de 2014

ENCONTRO DOS SABERES

PENSAR, SENTIR E FAZER
Agente não quer só ciência e tecnologia, queremos espiritualidade!

   Neste terceiro dia de Ciranda da Comunicação e Cultura Popular a Recid teve o prazer de receber o professor José Jorge de Carvalho, do departamento de antropologia da Universidade de Brasília, para nos contar sobre o projeto Encontro de Saberes. A grande roda de conversa trouxe a reflexão sobre o papel político e pedagógico das universidades na construção de um projeto popular para o Brasil. Segundo o professor “A intervenção estratégica é trazer os mestres das culturas populares para a instituição hegemônica universitária e influenciar a condução do poder, que é exercido na sua maioria por pessoas com o nível superior”
   A experiência do Encontro de Saberes realizada na UNB é uma ferramenta de disseminar e valorizar o conhecimento popular e também complementar a luta pelas cotas universitárias. O professor lembra que a UNB é uma das pioneiras nesta luta, desde 1999 está envolvida nesta construção. E que os argumentos contrários justificam que a raiz do problema está no ensino básico, mas ele reforça que o sistema educacional possui problemas em todos os níveis e necessita de interferências efetivas imediatas. E que não basta só inserir na universidade e disseminar o conhecimento dominante e excludente, todos os saberes populares e tradicionais necessitam estar representados para os universitários. “O grande desafio esta na inclusão dos jovens e dos mestres e mestras da cultura popular para proporcionar o ensinamento para todos\as”.
   O professor José Jorge afirma que existe uma discriminação dos saberes e a luta do Encontro dos Saberes é contra hegemônica, contra este racismo. Lembra que a capoeira está em 100 países do mundo e não estão na universidade, o afoxé, o maracatu, o jongo, entre outras expressões não estão nas escolas de música. Em 2010 o MinC já tentou levar este projeto do Encontro dos Saberes para o MEC, porém a lógica do ensino formal possui pouca conexão com a temática de processos alternativos a educação.
   Uma matéria regular do encontro é denominada Arte e Ofício dos Saberes Populares por onde os mestres e mestras de diversas raças e etnias deste país proporcionaram aulas de saberes culturais, de saúde e meio ambiente como Congada, reflorestamento, permacultura, plantas medicinais, artesanato entre outros. O professor ressalta a importância da construção da ponte entre a educação popular e o conhecimento científico, devemos lutar pelo notório saber popular, que a universidade outorgue este título. Sabemos que para isto necessitará de muita articulação política interna e externa a universidade e efetivar alterações nos regimentos internos que possibilite os nossos mestres/as exerçam funções pedagógica e sejam reconhecidos na condição de docentes. E a grande questão é como eles serão reconhecidos e para isto o professor conta que está sendo realizada a Cartografia Nacional dos Mestres e Mestras, um mapeamento estratégico para visualização da dívida do país com estes saberes e para tentar evitar fraudes.

   A universidade possui como tripé de atuação a realização e articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão e a proposta trazida é complementar e disseminar a Pedagogia do Pensar, Sentir e Fazer, necessitamos para além da ciência e da tecnologia a espiritualidade na formação de indivíduos e produção de conhecimento. Ele indica que dentro deste modelo de sociedade capitalista e genocida pode ser colocado como uma estratégia valorizar e disseminar os saberes, as ciências e tecnologias populares que estão em crise, fortalecer a autonomia e o enfrentamento das comunidades com relação à invasão e apropriação do capital a partir da resistência da cultural e econômica do povo. Foi levantado que mestres/as não necessariamente são os líderes das comunidades ou movimentos e que por isto é fundamental não perder de vista que os agentes comunitários, as lideranças estejam dialogando e fortalecendo as mestrias.
   Por fim sabemos que o papel de extensão universitária chega até as comunidades, utiliza-as como objeto de pesquisa, produz conhecimento e proporciona os títulos acadêmicos que geram docentes e enriquecem os curriculos lattes. A proposta agora é também trazer os mestres destas comunidades para dentro da universidade, incluir o popular neste local de poder e tentar transformar as consciências desta realidade que cria raciocínios pragmáticos, desumanizados e voltados muito mais para o mercado do que para a realidade do povo brasileiro.
 DANDARA
CIRANDA Março 2014

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