segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

FECHAMENTO DA CAJU, DA IGREJA E DOS JESUÍTAS




*Por José Wilson Correa Garcia.

Tenho acompanhado de longe – mas nem por isso distante – e com
perplexidade os acontecimentos que levaram o fechamento arbitrário da
CAJU, em Goiânia.

Para quem não conhece, a Casa da Juventude (CAJU) se tornou, durante
30 anos, um Centro de Capacitação e Formação Juvenil de referência
Local, Nacional e Internacional. Ali acontecia formação para Jovens,
Pastorais e Movimentos de diversos segmentos da Igreja e da Sociedade,
em praticamente todos os âmbitos do universo juvenil:
litúrgico/religioso, político, artístico, tecnológico, científico,
etc. Mais ainda:, apesar de estar localizada em Goiânia, GO a CAJU
esteve presente em quase todos os espaços de assessoria e formação de
forma itinerante, seja no Brasil ou fora dele. Mas não quero falar da
CAJU como um espectador estatístico. Não! Quero falar da CAJU como
homem, como pessoa que foi transformado por sua missão, quero recordar
nomes que me marcaram profunda e positivamente. Mas também quero
lembrar nomes que, agora, são motivo de vergonha e tristeza...

Fui Jesuíta durante mais de 10 anos. Por uma série de circunstâncias
que não vale a pena me estender agora, me desliguei da Companhia de
Jesus e hoje sou Professor, amo e sou amado pela Gabriela, com muito
orgulho e sou muito feliz por isso tudo. Durante o tempo em que estive
na Ordem dos Jesuítas, por opção pessoal e pastoral, estive próximo do
serviço a juventude, primeiramente através do Instituto de Pastoral da
Juventude do Regional Leste II da CNBB, em Belo Horizonte (IPJ Leste
II). Evidentemente, os trabalhos que assumíamos, nos colocaram em
contato direto com outras pessoas, centros e institutos espalhados
pelo Brasil. Assim conheci as primeiras pessoas que atuavam na CAJU.
Depois, também por iniciativa pessoal, tive a oportunidade de fazer um
Curso de Pós-graduação em Adolescência e Juventude no Mundo
Contemporâneo, que acontecia e era articulado pela própria CAJU. Ali
pude experimentar, verdadeiramente, o que é a CAJU. Ali conheci a
Carmem, a Edina, o Lourival, a Jaciara e tantas outras e outros que
faziam da CAJU um sonho possível e necessário de ser realizado. Nunca,
em anos como jesuíta, tinha encontrado uma obra com tanto protagonismo
leigo e dedicação à sua missão...

Como Jesuíta, e pelo fato de a CAJU ser uma obra ligada à Companhia de
Jesus, quis saber quem eram os Jesuítas que, naquele momento, estavam
por trás de toda aquela obra. É que geralmente, nas obras dos
Jesuítas, normalmente eles definem e determinam quase tudo dentro
dela, pois como ouvi muito dizer, “quem tem poder tem controle”. Para
meu espanto, encontrei, como diretor, Pe. Geraldo Labarrère
Nascimento, uma figura incrivelmente próxima, jovial e espantosamente
amiga, muito diferente dos outros jesuítas da Província Centro-leste,
que assumem um estereótipo de “intocáveis”, muito diferente dos
Jesuítas, por exemplo, do Nordeste. Na segunda etapa descobri que o
Pe. Geraldo não era mais o diretor, e sim a Carmem Lúcia Teixeira.
Sim, uma mulher (diga-se de passagem, capacitadíssima) como diretora
de uma obra dos Jesuítas, algo que nunca tinha visto, principalmente
ali, naquela região. Também, tinha o Pe. Hilário Dick, que apesar de
ser da Província da Sul (outro que tinha tudo para ser um
“intocável”), esteve muito ligado à CAJU e naqueles dias estava
facilitando uma disciplina na pós-graduação. Para quem conhece o Pe.
Hilário, ele dispensa apresentações. É uma figura psicodélica, que
fala da juventude como uma poesia constante, diária e necessária, que
é como um sino que alerta constantemente a Igreja no Brasil da
necessidade de ter um olhar e uma ação diferenciada para a Juventude.
Pe. Geraldo e Pe. Hilário foram os dois Jesuítas que me ensinaram o
que os Jesuítas deveriam fazer com suas obras, mas não fazem...

Hoje, quando percebo todo o desfecho que levou o fechamento da CAJU,
apesar de sentir e de compartilhar a dor e a indignação de muitos que
tem aquela casa como referência, confesso que não fico tão admirado
assim. Meu espanto por encontrar, na CAJU, uma autonomia e um
protagonismo leigo era, na verdade, um presságio. Sim, para mim o
desfecho da CAJU é a confirmação de uma postura que, desgraçadamente,
se enraizou e se afirmou na Igreja: o autoritarismo nada evangélico.

São pouquíssimos os bispos e padres que, hoje, tem a intenção de
formar gente que pense por si, que se sinta verdadeiramente Igreja de
Jesus Cristo... Pe. Geraldo, por exemplo, é um desses pastores. Seu
sucessor, Pe. Nilson Marostica, é radicalmente o inverso e quando
fiquei sabendo que ele tinha sido destinado para substituir o Pe.
Geraldo, pensei no meu coração, “Ai vem coisa...”, mas preferi guardar
esses acontecimentos no coração, como Maria. Entendo perfeitamente que
Pe. Nilson, junto com o Provincialato dos jesuítas da Província
Centro-leste, Pe. Smida e Pe. Carlos Fritzen, tenham argumentos
econômicos e administrativos/filantrópicos para justificar essa
atitude arbitrária e autoritária de fechar a CAJU. Mas no coração de
quem vivenciou e entendeu a missão da CAJU, não existe justificativa
possível... No fim das contas, aí está, mais uma vez, a afirmação de
um modelo de igreja e de trabalho com a juventude que tem o controle
como centro.

A CAJU fechou? Os que compartilharam com essa arbitrariedade e
irresponsabilidade (sim, irresponsabilidade, pois nenhuma obra que
funcionou com mais de 30 anos de projeto, é simplesmente fechada tão
rápido quando inconseqüentemente), dirão que não, a CAJU continuará,
mas em outra linha, em outra perspectiva de trabalho... Os que
entendem a CAJU profundamente, afirmam acertadamente que ela fechou,
sim. E fechou porque a CAJU não era somente a obra física, mas era a
missão, o protagonismo, a autonomia... coisas tão desejadas e queridas
pelos últimos documentos das Congregações Gerais e Normas dos
Jesuítas. Mas quem perde não é somente a juventude brasileira e
latino-americana, que não terão mais um centro de referência e
formação, com tanta experiência e material sistematizado e publicado.
Quem perde também é a igreja...

Apesar de tudo, ainda me sinto Igreja de Jesus. E como tal sofro
porque sinto que, institucionalmente, a Igreja e os jesuítas perdem,
em muito, com atitudes como essa. Estão se afastando do mundo. Acham
que o punhado de jovens que conseguem controlar dentro de suas obras é
o suficiente para a missão que Deus os confia... Mas não é...

A CAJU fechou? Institucionalmente, sim. E, com ela, também fechou a
Igreja, fechou também os Jesuítas... Sinto e sei, contudo, que a CAJU
também continua, no coração daquelas e daqueles que entenderam e
viveram sua missão de levar para o mundo a mensagem do jovem Jesus de
Nazaré... Isso não se fecha!


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