domingo, 3 de fevereiro de 2013

JUVENTUDE, CUIDADO E FUTURO


                                                                    



                                                                     Em homenagem aos jovens estudantes de Santa Maria, RS
                

           

           Dias antes do 1º Encontro Nacional de Juventudes da Rede de Educação Cidadã (RECID) – ‘Juventudes construindo a manhã desejada’, recebo reflexão do mestre, amigo e companheiro de muitas jornadas, Pe. Hilário Dick, SJ: ‘O Mistério dos 30’.
                O Encontro de Juventudes da RECID tem por objetivo “partir das experiências de organização e formação das juventudes, consolidar uma leitura comum da conjuntura brasileira e apontar os principais desafios e ações das juventudes na construção do poder popular.” Como objetivos específicos, pretende fortalecer as organizações populares da juventude; incentivar o trabalho com a arte, o simbólico, a mística e a cultura popular como ferramentas de formação da juventude; construir um olhar coletivo sobre a conjuntura brasileira, latino-americana e internacional; aprofundar o conhecimento sobre as lutas populares da juventude a partir da década de 60; socialização das experiências de formação, organização e políticas públicas da juventude; identificar as ações da juventude no campo popular; e aprofundar o conhecimento sobre o Projeto Popular.
                              

  É um olhar para e sobre o futuro.
                Hilário Dick, em ‘Mistério dos 30’, escreve: “Uma crônica que rumina o ‘fechamento’ da Casa da Juventude de Goiânia... Dizem que não vão ‘fechar’, mas ‘recomeçar’. Uma obra, no entanto, não são seus muros e seus espaços: uma obra são seus objetivos e estes foram mortos. Por isso, o ‘fechamento’ é ‘fechamento’ e não outras palavras que os autores da barbárie já inventaram ou vão inventar. Gostaria de ser mais poético, mas a poesia está um pouco tonta depois do que assisti, em Goiânia, em janeiro de 2013.”
                Rogério Oliveira escreve ‘Sobre a Morte e a Ressurreição da CAJU’: “Sabe aquele vazio no peito que aparece quando uma notícia triste lhe é contada? A Casa da Juventude Padre Burnier (CAJU) encerrou boa parte das atividades pastorais. Era um centro de referência de Direitos Humanos e da juventude. Publicava materiais importantes, úteis e necessários. Dava cursos, promovia debates, levantava questões, colocava o dedo na ferida, era local de acolhida, carinho e cuidado. Era para muitos pejoteiros do Brasil um referencial, quase um oásis. Era um local onde se estudava e partilhava a honestidade, o bom senso, a crítica, a humanidade, o ser cristão, o estar junto. Muitos jovens puderam construir seus projetos de vida orientação da casa. Muita gente que passou pelos cursos da CAJU acabou se tornando referência de formações pastorais nos seus locais de origem. Era de fato uma CASA da JUVENTUDE. O bem querer era a marca forte.”
                
                  É um olhar sobre o passado, sobre o que foi ou está deixando de ser. Como diz Rogério Oliveira, ‘mas isso é história a ser contada’.
                Nas férias de janeiro, achei um texto/reflexão de 1980/81 nos meus guardados históricos: ‘Movimento popular e Igreja’. Antes do título, está: Instituto de Pastoral de Juventude (IPJ), Rua Luiz Manoel Gonzaga, 744 – 90000 – Porto Alegre. Conheci Pe. Hilário no IPJ, onde aconteciam muitas das coisas importantes da Pastoral da Juventude do Rio Grande do Sul e que promovia o CAJO (Curso de Assessores de Jovens), que assessorei e do qual ele era o grande comandante. O IPJ foi fechado nos anos oitenta, assim como acontece agora com a Casa da Juventude de Goiânia.
                No item 5 e último do texto ‘Movimento Popular e Igreja’ de 1980/81, pergunto: “E o jovem, onde se coloca?” Respondo: “Dentro dos movimentos populares. Aí é seu lugar de jovem e de cristão. É claro que, fruto da sociedade capitalista competitiva, consumista e alienante, o jovem é minoria dentro do movimento popular, embora quase todas as lideranças surgidas nos últimos anos no Brasil possam dizer-se jovens, pois beiram os 30 anos, mais ou menos, e muitas saíram dos movimentos de juventude da Igreja.
                Os grupos e movimentos de jovens, se autênticos, vinculam sua fé à realidade brasileira e latino-americana e não podem estar ausentes e despreocupados com o movimento popular. A própria Pastoral da Juventude do Centro-Oeste, Nordeste e mesmo do Sul, por seus últimos documentos e cursos, parece estar muito atenta à caminhada do povo e buscando, efetivamente, fazer-se presente e atuante na histórica luta do trabalhador por sua libertação. O que é excelente e pode trazer grandes contribuições para a transformação do Reino de Deus já aqui neste mundo.”  
                Se era isso naqueles tempos, como fechar a CAJU de Goiânia nos tempos atuais?
                Escreve Rogério Oliveira: “Da mesma maneira que os membros da CAJU, nós também sabemos que morte não tem a última palavra. Se a casa acaba aqui, vai ressurgir ali de outra forma, nova e transfigurada. A morte é uma semente lançada na terra. Se for bem cuidada e não for esquecida, trará bons frutos. Nossa resistência está na memória histórica. Nosso exemplo está em Jesus de Nazaré. Nosso lugar está ao lado da juventude. Nossa ação está no serviço. Nossos gestos são sempre com amor. E, apesar do sonho interrompido, dos projetos encerrados, ainda temos memória, exemplo, lugar, serviço e amor. E é por conta de tudo isso que a CAJU sempre viverá.”
                A CAJU viverá nas mentes e corações dos jovens que por lá passaram. Mas não será a mesma coisa. Corações e mentes também precisam de espaços institucionais para materializarem seus sonhos. A RECID, incentivada a partir da Secretaria Geral da Presidência da República, é um destes espaços de apoio, ‘para construir a manhã desejada’. Os jovens não são amanhã. São hoje, constroem agora com todo cuidado o futuro. Sem IPJs, sem CAJUs, ‘a manhã desejada’ cantada pelo Gonzaguinha tardará mais a chegar.
Selvino Heck
Assessor Especial da Presidência da República
Em primeiro de março de dois mil e treze

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