Em homenagem aos jovens
estudantes de Santa Maria, RS
Dias
antes do 1º Encontro Nacional de Juventudes da Rede de Educação Cidadã (RECID)
– ‘Juventudes construindo a manhã desejada’, recebo reflexão do mestre, amigo e
companheiro de muitas jornadas, Pe. Hilário Dick, SJ: ‘O Mistério dos 30’.
O
Encontro de Juventudes da RECID tem por objetivo “partir das experiências de
organização e formação das juventudes, consolidar uma leitura comum da conjuntura
brasileira e apontar os principais desafios e ações das juventudes na
construção do poder popular.” Como objetivos específicos, pretende fortalecer
as organizações populares da juventude; incentivar o trabalho com a arte, o
simbólico, a mística e a cultura popular como ferramentas de formação da
juventude; construir um olhar coletivo sobre a conjuntura brasileira,
latino-americana e internacional; aprofundar o conhecimento sobre as lutas
populares da juventude a partir da década de 60; socialização das experiências
de formação, organização e políticas públicas da juventude; identificar as ações
da juventude no campo popular; e aprofundar o conhecimento sobre o Projeto
Popular.
É um olhar para e sobre o
futuro.
Hilário
Dick, em ‘Mistério dos 30’, escreve: “Uma crônica que rumina o ‘fechamento’ da
Casa da Juventude de Goiânia... Dizem que não vão ‘fechar’, mas ‘recomeçar’.
Uma obra, no entanto, não são seus muros e seus espaços: uma obra são seus
objetivos e estes foram mortos. Por isso, o ‘fechamento’ é ‘fechamento’ e não
outras palavras que os autores da barbárie já inventaram ou vão inventar.
Gostaria de ser mais poético, mas a poesia está um pouco tonta depois do que
assisti, em Goiânia, em janeiro de 2013.”
Rogério
Oliveira escreve ‘Sobre a Morte e a Ressurreição da CAJU’: “Sabe aquele vazio
no peito que aparece quando uma notícia triste lhe é contada? A Casa da
Juventude Padre Burnier (CAJU) encerrou boa parte das atividades pastorais. Era
um centro de referência de Direitos Humanos e da juventude. Publicava materiais
importantes, úteis e necessários. Dava cursos, promovia debates, levantava
questões, colocava o dedo na ferida, era local de acolhida, carinho e cuidado.
Era para muitos pejoteiros do Brasil um referencial, quase um oásis. Era um local
onde se estudava e partilhava a honestidade, o bom senso, a crítica, a
humanidade, o ser cristão, o estar junto. Muitos jovens puderam construir seus
projetos de vida orientação da casa. Muita gente que passou pelos cursos da
CAJU acabou se tornando referência de formações pastorais nos seus locais de
origem. Era de fato uma CASA da JUVENTUDE. O bem querer era a marca forte.”
É
um olhar sobre o passado, sobre o que foi ou está deixando de ser. Como diz
Rogério Oliveira, ‘mas isso é história a ser contada’.
Nas
férias de janeiro, achei um texto/reflexão de 1980/81 nos meus guardados
históricos: ‘Movimento popular e Igreja’. Antes do título, está: Instituto de
Pastoral de Juventude (IPJ), Rua Luiz Manoel Gonzaga, 744 – 90000 – Porto
Alegre. Conheci Pe. Hilário no IPJ, onde aconteciam muitas das coisas
importantes da Pastoral da Juventude do Rio Grande do Sul e que promovia o CAJO
(Curso de Assessores de Jovens), que assessorei e do qual ele era o grande
comandante. O IPJ foi fechado nos anos oitenta, assim como acontece agora com a
Casa da Juventude de Goiânia.
No
item 5 e último do texto ‘Movimento Popular e Igreja’ de 1980/81, pergunto: “E
o jovem, onde se coloca?” Respondo: “Dentro dos movimentos populares. Aí é seu
lugar de jovem e de cristão. É claro que, fruto da sociedade capitalista
competitiva, consumista e alienante, o jovem é minoria dentro do movimento
popular, embora quase todas as lideranças surgidas nos últimos anos no Brasil
possam dizer-se jovens, pois beiram os 30 anos, mais ou menos, e muitas saíram
dos movimentos de juventude da Igreja.
Os
grupos e movimentos de jovens, se autênticos, vinculam sua fé à realidade
brasileira e latino-americana e não podem estar ausentes e despreocupados com o
movimento popular. A própria Pastoral da Juventude do Centro-Oeste, Nordeste e
mesmo do Sul, por seus últimos documentos e cursos, parece estar muito atenta à
caminhada do povo e buscando, efetivamente, fazer-se presente e atuante na histórica
luta do trabalhador por sua libertação. O que é excelente e pode trazer grandes
contribuições para a transformação do Reino de Deus já aqui neste mundo.”
Escreve
Rogério Oliveira: “Da mesma maneira que os membros da CAJU, nós também sabemos
que morte não tem a última palavra. Se a casa acaba aqui, vai ressurgir ali de
outra forma, nova e transfigurada. A morte é uma semente lançada na terra. Se
for bem cuidada e não for esquecida, trará bons frutos. Nossa resistência está
na memória histórica. Nosso exemplo está em Jesus de Nazaré. Nosso lugar está
ao lado da juventude. Nossa ação está no serviço. Nossos gestos são sempre com
amor. E, apesar do sonho interrompido, dos projetos encerrados, ainda temos
memória, exemplo, lugar, serviço e amor. E é por conta de tudo isso que a CAJU
sempre viverá.”
A
CAJU viverá nas mentes e corações dos jovens que por lá passaram. Mas não será
a mesma coisa. Corações e mentes também precisam de espaços institucionais para
materializarem seus sonhos. A RECID, incentivada a partir da Secretaria Geral
da Presidência da República, é um destes espaços de apoio, ‘para construir a
manhã desejada’. Os jovens não são amanhã. São hoje, constroem agora com todo
cuidado o futuro. Sem IPJs, sem CAJUs, ‘a manhã desejada’ cantada pelo
Gonzaguinha tardará mais a chegar.
Selvino Heck
Assessor Especial da
Presidência da República
Em primeiro de março
de dois mil e treze
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