*Frei Marcos Sassatelli
O 1º de Maio é o Dia do Trabalhador/a.
A Região Noroeste de Goiânia - com o apoio do Forum do Grito dos Excluídos/as e
Assembleia Popular - realizou, pela segunda vez - neste ano de 2012 - o 1º de
Maio Popular: um 1º de Maio autônomo (do Povo) e não um 1º de Maio pelego e atrelado
aos interesses do capital nacional e internacional. Para a Região Noroeste, o 1º de Maio Popular, foi
também o Pré-Grito dos Excluídos/as.
A comemoração iniciou com a concentração em
frente ao CAIS do Jardim Curitiba II, às 8:30h, num clima de muita animação, fraternidade
e vontade de lutar. Participaram cerca de 400 pessoas, com um destaque especial
para as mulheres e jovens. Os participantes tiveram também a alegria da
presença de um grupo de bravos lutadores/as do Residencial Real Conquista, que
- podemos dizer - vieram da “grande tribulação” (Ap. 7,14), a barbárie do
Parque Oeste Industrial, mas foram vitoriosos/as.
No ano passado, na manifestação do
1º de Maio, foi distribuída a Carta
aberta “Prioridades da Região Noroeste”, elaborada na Assembleia Popular, que
aconteceu no dia 9 de abril/11, na Escola Municipal Nossa Senhora Aparecida do
bairro S. Domingos. A Carta apresentava as seguintes reivindicações, como
direitos da população: saúde, educação, assistência social, transporte,
segurança pública, trabalho, cultura/lazer/esporte, moradia/infraestrutura,
meio ambiente e participação popular. À época, a Carta foi entregue ao Poder
Público para que as reivindicações da população fossem atendidas o mais rápido
possível.
Infelizmente,
depois de um ano, a situação continua praticamente a mesma. E é justamente por
isso que a manifestação do 1º de Maio de 2012 da Região Noroeste - Pré-Grito
dos Excluídos/as - retomou duas importantes bandeiras de luta, saúde pública e
educação pública, que faziam parte da pauta de reivindicações de 2011.
A
caminhada começou por volta das 9:00h e a primeira parada, aconteceu em frente à
Escola Estadual Nazir Safatle (ainda no Jardim Curitiba II), que - interditada
pelo Corpo de Bombeiros há quase três anos por razões de segurança - foi
demolida em agosto de 2010 com a promessa de construir uma nova Escola em sete
meses. Foi iniciado o alicerce e as obras de construção do novo prédio pararam
em abril/11 (continuando paradas até hoje). Uma placa do governo de Goiás
informa que uma nova unidade escolar seria construída no local, no “Padrão
Século XXI" (com salas de informática, auditório, biblioteca, quadra
poliesportiva coberta, laboratório de ciência e sala para a direção).
Que descaramento! Que desrespeito para com o
povo! A imprensa noticiou que o motivo principal do atraso é a falta de
recursos. Será que os R$ 2.485.109,07 - o custo da obra segundo a placa do
Governo - foram engolidos por alguma “cachoeira”?
Por incrível que pareça, os cerca de
600 alunos da Escola demolida estudaram (melhor seria dizer: fizeram de conta
que estudaram) por algum tempo numa antiga fábrica de sabão, num total descaso
e atualmente estão acampados numa parte do Colégio Estadual Jayme Câmara, em
péssimas condições. Quando será que o Governo do Estado tomará as devidas
providências, cumprindo o seu dever?
Depois da fala de algumas lideranças da
Região Noroeste, a caminhada continuou - com cantos e muita alegria - e,
durante o percurso, os participantes da manifestação, sobretudo os jovens, gritavam
os slogans: “Eu nunca vi. Quero ver o Governo que aparece na TV” e “Promete,
promete e nada acontece”. E cantavam o refrão: “Vem, vamos embora que esperar
não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
A segunda parada aconteceu em frente à
Maternidade “Nascer Cidadão”, no Jardim Curitiba III. Os participantes da
manifestação, que fizeram uso da palavra, lembraram, em primeiro lugar, o
trabalho dedicado de tantos agentes de saúde que - apesar de condições
precárias - servem ao povo com atenção e amor. Falou-se também do testemunho
deixado pela Irmã Katherine, que tanto lutou pelo SUS em Goiânia - sobretudo na
Região Noroeste - e, em especial, pela Maternidade “Nascer Cidadão”. O povo
gritava: “Irmã Katherine, presente”!
Falou-se ainda da situação de descaso e,
muitas vezes, de calamidade em que se encontra a saúde pública. Apesar de o SUS
ser reconhecido, em teoria, como um dos melhores planos de saúde pública, na
prática funciona mal e deixa muito a desejar, pela falta de estrutura física
adequada, pela falta de material básico, pela falta de atendimento em casos de emergência
e pela falta de vagas para internação na UTI, causando, muitas vezes, a morte
dos doentes (leia o meu Artigo: O “corredor da morte” dos pobres. Diário da
Manhã, Opinião Pública, 17/08/11, p. 6 ou http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=59474).
Todos os que fizeram uso da palavra se
manifestaram contra à privatização da Saúde, mesmo quando disfarçada, através
das chamadas Organizações Sociais (OSs).
A terceira parada e o encerramento da
manifestação aconteceram por volta das 12h, em frente ao Colégio Estadual João
Bênnio e ao lado da Escola Municipal Nossa Senhora da Terra, sempre no Jardim
Curitiba III.
No Colégio João Bênnio o Estado realizou -
através da Mac 3 Construtora LTDA. - uma reforma paliativa ao custo de R$
55.833,57. Os próprios alunos levantam suspeitas sobre o valor gasto na
reforma. Será que mais uma “cachoeira” engoliu o dinheiro do povo? “Na reforma, foi feita somente a pintura do
Colégio, rampa para cadeirante e piso nos banheiros. Depois da reforma, uma das
grades caiu; os ventiladores estão a ponto de desabar; faltam cadeiras e as que
têm estão quebradas; as portas estão caindo e os vidros quebrados; o bebedouro
é sujo e emana um odor desagradável; na quadra tem entulho de lixo; foi
encontrada maconha no banheiro; falta segurança” (Depoimento de uma aluna).
No Colégio Estadual Jayme Câmara, no bairro
Floresta, foi feita também uma reforma paliativa - pela mesma Construtora - no
valor de R$ 63.586,73. “Durante a reforma, aumentaram o muro, colocaram câmeras
de segurança, houve a construção de guaritas para o guarda”. Nesse caso também
continuam as mesmas suspeitas sobre o uso do dinheiro público.
“Como o Colégio dividiu seu espaço físico com
a Escola Estadual Nazir Safatle, não tem lugar para os alunos na hora do
recreio. As salas são de placas, faltam torneiras nos banheiros; não tem
quadra, os alunos praticam esporte no estacionamento; os livros ficam jogados e
não tem bibliotecária; faltam professores (inglês, português); o lanche chega
estragado e vencido; a direção não foi escolhida pelos alunos, mas pela
Subsecretaria de educação; falta de diálogo entre direção e alunos” (Depoimento
de uma aluna). Que panorama deprimente! Que falta de responsabilidade por parte
do Poder Público!
As Escolas Municipais da Região Noroeste têm,
em geral, uma estrutura física boa, mas as condições de trabalho são, muitas
vezes, precárias.
Todos e todas, que fizeram uso da palavra,
defenderam a Saúde Pública e a Educação Pública como direitos fundamentais do
povo e dever do Estado. No encerramento da manifestação, os participantes deram
as mãos, formando grandes círculos e manifestando publicamente o desejo de
caminhar unidos na defesa dos direitos humanos e por uma vida digna para
todos/as. Um mundo novo é possível. Lutemos por ele.
Diário da Manhã, Opinião Pública, Goiânia, 11/05/12, p.
06
http://www.dmdigital.com.br/novo/?ref=dmsite#!/view?e=20120511&p=22
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=66833
Fr. Marcos Sassatelli, Frade
dominicano
Doutor em Filosofia (USP) e em
Teologia Moral (Assunção - SP)
Prof. de Filosofia da UFG
aposentado
Prof. na Pós-Graduação em
Direitos Humanos
(Comissão Dominicana Justiça e
Paz do Brasil / PUC-GO)
Vigário Episcopal do Vicariato
Oeste da Arquidiocese de Goiânia
Administrador Paroquial da
Paróquia Nossa Senhora da Terra
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