quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Carta da comunidade xavante à sociedade brasileira



“Na eco 92, começamos a lutar pela nossa terra de Marãiwatsédé. 

Nesse território, os ancestrais, nossos bisavós viviam em cima da terra. Esse território é origem do povo de Marãiwatsédé. Nessa terra amada foi criado o povo de Marãiwatsédé.

Agora a desintrusão já começou. Os anciões esperaram muito tempo para tirar os não-índios da terra. Sofreram muito. A vida inteira sofrendo, esperando tirar os fazendeiros grandes. 

A lei federal, a constituição, as autoridades estão do nosso lado. As autoridades da Força Nacional, exército, polícia federal estão do nosso lado porque a presidente Dilma sabe que a terra é dos xavantes de Marãiwatsédé. 

Agradecemos as autoridades e todas as entidades que nos apóiam nessa luta da verdade contra a mentira. A desintrusão é ótima.

Será que a terra é dos brancos? Será que os pais, os avós, os bisavós dos fazendeiros nasceram aqui? A gente sabe, a comunidade de Marãiwatsédé sabe. Não nasceram! Quem sempre ocupou a terra foi o índio. O xavante de Marãiwatsédé. Hoje a comunidade espera tranqüila a desintrusão.

Quem ocupava a terra eram nossos pais, nossos avós, nossos bisavós, que nasceram aqui, cresceram aqui, fizeram festa para adolescente. Lutaram muito, faziam ritual dentro do território de Marãiwatsédé. Nem fazendeiro e nem posseiro viviam aqui antes de 1960.

Era só índio, os anciões lembram, só tinham duas casas em São Félix do Araguaia. Quando fomos retirados para TI São Marcos, já criaram os municípios e o nosso território foi destruído.

Quem destruiu, foi o índio ou foi o branco? A gente sabe mesmo, foi o branco que destruiu a floresta, essa não é a nossa vida. Nossa vida é preservar a terra, a natureza, os rios, os lagos. É assim que a gente vive, nosso povo respeita nossa mãe e nossa mãe é a natureza. Esperamos tranqüilos a nossa vitória. Dormimos tranqüilos, sonhamos bonito com a vitória da nossa terra.

Antes da retirada de nossa terra, mataram muitos xavantes. Os fazendeiros daquele tempo é muito bandido. Mataram com tiro. Morreu Tseretemé, Tserenhitomo, Tsitomowê, Pa’rada, Tseredzaró, tudo morto com tiro. Não vamos trair o espírito deles.

Eles só foram tombados em cima dessa terra. Será que os fazendeiros vão pagar indenização?

Quando o povo de Marãiwatsédé morava aqui quem apareceu primeiro foi Ariosto da Riva. Ele fez foto com o nosso povo. Ele enganou os xavantes , destruiu nossa terra. Não pediu para o povo xavante se podia destruir a floresta. Foi ele que fez invasão do nosso território. Os mais velhos lembram, o piloto dele era o Nelson. A comunidade xavante de Marãiwatsédé quer ter a terra de volta. Ela foi reduzida. 

A diferença do xavante de Marãiwatsédé com os outros xavantes é porque os xavantes de Marãiwatsédé estão sempre preservando a floresta. Não é só o cerrado. A floresta (Amazônica) é a principal para nossos bisavós que viviam aqui. 

É a mata misteriosa que só os xavantes de Marãiwatsédé conhecem seus segredos. Por isso, os antepassados sempre preservaram a floresta, porque ela é da nossa cultura. 

Essa terra é nossa origem. Os Xingus também protegiam nossa terra, os antepassados dos Kalapapos eram amigos dos antepassados dos xavantes de Marãiwatsédé.

Os animais não podem sofrer mais com tanta destruição da natureza. Quando a terra for devolvida para o nosso povo, a floresta vai viver novamente, vão voltar os animais e plantas. Nossa mãe vai ficar muito forte e muito bonita, como sempre foi. É assim que tem que ser. 

Damião Paridzane
Cacique da Aldeia Marãiwatsédé"

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