segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O Partido da Terra


*Por Euler de França Belém 
Jornal Opção.

Políticos goianos que são grandes proprietários de terras
O livro “Partido da Ter­ra — Como os Po­líticos Conquistam o Território Brasi­leiro” (Contexto, 239 páginas), do jornalista Alceu Luís Castilho, tem vários méritos — um deles a rica documentação, muito bem organizada e disposta — e pelo menos um defeito. Ou quase um defeito: fica-se com a impressão de que aquele político que é dono de terras é necessariamente “criminoso”. A pecha de “latifundiário” soa como uma “condenação”. O que salva mesmo a obra são os dados e, mesmo, algumas interpretações. O autor diz que, mais do que uma bancada, pode-se falar num “sistema político ruralista”. Os proprietários de terras são donos da política e, por meio da política, se tornam do­nos de mais terras. Políticos de todos os Estados são citados. Alguns são goianos.

Entre os políticos goianos (ou radicados em Goiás) apontados como grandes ou médios proprietários de terras estão Iris Rezende, Iris Araújo, Raquel Rodrigues (mulher do ex-governador Alcides Rodrigues; o casal é proprietário de terras no Pará — 5.788,90 hectares — e em Goiás), José Gomes da Rocha (o prefeito tem fazendas em Itumbiara e em Balsas, no Maranhão. A de Balsas tem 2 mil hectares), Sebastião Peixoto da Silveira (ex-prefeito de Itapaci), Bento Vicente (prefeito de Cór­rego do Ouro), Humberto Ma­chado (o prefeito de Jataí tem fazenda no Pará), Paulão da Cu­nha (prefeito de Chapadão do Céu), Ronaldo Caiado, Joaquim Roriz, Iso Moreira, Osires Teixeira (falecido em 1993), Jardel Sebba, Sandro Mabel, Francisco Gedda, Nilo Resende, Adair Henriques (prefeito de Bom Jesus de Goiás; ele é mineiro), João Campos (no Pará), Leandro Vilela, Luiz Carlos do Carmo (dono de mineradora), Eurípedes do Carmo (prefeito de Bela Vista de Goiás, dono de mineradora), José Vitti (mineradora), Rubens Rios (prefeito de Aragoiânia) “Os goianos são os que mais buscam terra fora.”

“Há um grupo muito especial entre os 13 mil políticos — eleitos para cargos vigentes em 2011 — com imóveis rurais. Apenas 346 deles possuem 77% da área inicial de 2 milhões de hectares. O que eles têm em comum? Suas fazendas possuem mais de mil hectares. Somadas, elas perfazem um território de 1,54 milhão de hectares — equivalente à metade da Bél­gica”, anota Castilho. “As propriedades com mais de mil hectares concentram 43% da área total registrada no Brasil. (...) A concentração entre os políticos é ainda maior: um grupo de 211 eleitos possui mais de 2 mil hectares cada um. (...) Eles têm acima de dois terços (67%) da área de 2 milhões revelada ao TSE. Esse pedaço de Brasil soma 1,35 milhões de hectares — tamanho de países como Montenegro e Bahamas, quase o do Timor Leste.”

O prefeito Adair Henriques é dono de 54 mil hectares em Goiás. “O prefeito de Jordão, no Acre, Hilário Melo (PT), possui quase 18 mil hectares: tamanho de Aruba, no Caribe”. Detalhe: o latifundiário é filiado ao PT. “O político com mais terras na Amazônia é o madeireiro Togo Soares (PMDB), prefeito de Uarini (AM), com 23 mil hectares. Pouco me­nos que a área das famosas Ilhas Cayman”, escreve Castilho. O se­nador cearense Eunício de Oli­veira (PMDB) tem 73 propriedades rurais em Goiás, “com mais de 8 mil hectares”.
 

O empresário goiano José Osmar Borges foi sócio do senador Jader Barbalho. Michel Temer, assinala Castilho, “foi acusado de tentar abocanhar 2,5 mil hectares da reserva, de 7 mil hectares”, em Alto Paraíso (GO). “Temer tinha apenas 40 hectares de posse. De­pois a alterou para 746 hectares. Mais tarde, para 2,5 mil hectares. E, por fim, tentou dobrar a área — com os 2,5 mil hectares da reserva — por meio de uma ação de usucapião”.
 

“O PMDB e o PSDB são os partidos brasileiros que abrigam mais políticos com terra. Os tucanos lideram o ranking entre os prefeitos: possuem mais de 21% do total de 1,16 milhão de hectares declarados pelos políticos eleitos em 2008 para o Executivo. Mas é seguido de perto pelo PMDB, com 20% das terras”, revela Castilho.  Entre os latifundiários estão os petistas Hilário Melo e o senador Delcídio Amaral e os “socialistas” Marino Franz e Izair Teixeira, ambos do PPS, e Cleide Coutinho, do PSB.
 

O grupo JBS-Friboi gastou R$ 30 milhões na campanha eleitoral de 2010. Deu dinheiro para Iris Rezende (R$ 3 milhões), Marconi Perillo (R$ 2,5 milhões) e Siqueira Campos. O grupo, que tem como sócio Júnior do Friboi, doou R$ 5,3 milhões para candidatos a deputado estadual. Desse dinheiro os candidatos goianos ficaram com R$ 3,5 milhões. Foram eleitos 41 (75%) dos 55 candidatos a deputado federal apoiados pelo Friboi no país. “O frigorífico foi ainda mais ‘pé quente’ no caso do Senado: elegeu 7 entre 8 candidatos. A campanha desses 48 parlamentares custou R$ 10 milhões ao frigorífico”, diz Castilho. Políticos goianos que receberam dinheiro do Friboi: Jovair Arantes, Vilmar Rocha, Leandro Vilela, Pedro Chaves, Armando Vergílio, Leo­nardo Vilela e Lúcia Vânia. “O grupo Friboi também contribuiu com R$ 9 milhões para a campanha vitoriosa de Dilma Rousseff.” (Leia o texto“Políticos que ti­nham escravos em suas fazendas" )

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