Ainda não caiu a ficha da imprensa brasileira sobre a gravidade da Operação Monte Carlo, que prendeu Carlos Cachoeira. O Michael Corleone tupiniquim explorava cassinos, mandava na segurança pública de Goiás, mantinha um esquema de espionagem e pode arruinar a carreira de Marconi Perillo
Um dos maiores escândalos já vistos no Brasil ainda não ganhou a devida atenção da imprensa nacional. Presoontem pela Polícia Federal, na Operação Monte Carlo, o bicheiro Carlos Cachoeira, que explorava uma rede de caça-níqueis e cassinos ilegais em cinco estados brasileiros, é um personagem semelhante ao lendário mafioso Michael Corleone, interpretado de forma magistral por Al Pacino em “O Poderoso Chefão”. Cachoeira mandava na polícia, tinha jornalistas na sua folha de pagamento, mantinha uma rede de espionagem ilegal e – o mais grave – nomeou dezenas de pessoas para o governo do tucano Marconi Perillo, em Goiás. Isso está dito textualmente na decisão do juiz da 11ª Vara Criminal da Justiça Federal de Goiás, da seguinte maneira: “Descobriu-se a influência de CARLOS CACHOEIRA na nomeação de dezenas de pessoas para ocupar funções públicas no Estado de Goiás”. Ou seja: o governador teria loteado a área de segurança pública a um dos maiores mafiosos do País. E, até agora, Perillo ainda não deu uma única declaração sobre a operação Monte Carlo.
O que se comenta em Brasília é que Cachoeira ajudou a bancar a campanha de Perillo ao governo de Goiás em 2010. Um dos primeiros nomes recrutados foi o do sargento Idalberto Araújo, conhecido como Dadá e notoriamente um dos maiores especialistas em grampos ilegais do País. Outro nome foi o jornalista Alexandre Oltramari, que, antes de se dedicar à campanha de Perillo, era um dos principais repórteres investigativos da revista Veja. Na sentença, o juiz da 11ª Vara também destaca que, ao desarticular a quadrilha de Carlos Cachoeira, foi possível descobrir uma imensa rede de espionagem ilegal. Por isso mesmo, Dadá está preso e, se contar o que sabe, poderá abalar a República.
Os cassinos de Carlinhos Cachoeira em Goiânia e Valparaíso, nas cercanias de Brasília, tinham rendimento médio de R$ 3 milhões/mês, segundo os procuradores Daniel de Resende Salgado, Lea Batista de Oliveira e Marcelo Ribeiro de Oliveira. Também foi preso, como integrante da quadrilha, o ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia, Wladmir Garcez.
Outro personagem que se mantém em silêncio, além do governador Marconi Perillo, é o secretário de Segurança Pública e Justiça de Goiás, João Furtano Neto. Na Operação Monte Carlo, foram fisgados seis delegados da Polícia Civil, 29 policiais militares e o próprio corregedor da Secretaria de Segurança.
A influência de Carlinhos Cachoeira no governo de Marconi Perillo também atingiria outra área vital: a Secretaria de Indústria e Comércio, onde trabalhariam seis parentes do bicheiro e do ex-presidente da Câmara Municipal. Sem ter como fugir do problema, o secretário Alexandre Baldy declarou ao jornal “O Popular” que considera Cachoeira um “bom amigo” e disse não saber o que “ele faz da vida”. Também flagrado, o coronel Sergio Katayama pediu desculpas à sociedade goiana e disse que há crimes mais sérios a reprimir do que a jogatina.
Antecedentes de Cachoeira
Carlos Cachoeira é talvez o mafioso mais audacioso do Brasil. No início do governo Lula, ele teve coragem de desafiar aquele que era tido como o “capitão do time”: o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu.
Cachoeira trabalhava pela liberação dos bingos e tentava pressionar o governo petista, que se mostrava favorável à causa. Só que quando um assessor de Dirceu foi procurá-lo, Cachoeira decidiu filmá-lo pedindo propina. Era Waldomiro Diniz, ex-subchefe da Casa Civil, que acaba de ser condenado a 12 anos de prisão. A fita foi distribuída nas redações pelo jornalista Mino Pedrosa. Como o caso teve destaque em todos os jornais, revistas e televisões do Brasil ainda em 2004, chega a ser piada o fato de um secretário de governo em Goiás declarar não saber o que Cachoeira fazia da sua vida.
Para quem não o conhece, Cachoeira é o Michael Corleone brasileiro.
E sua relações perigosas têm potencial para arruinar a carreira política de Marconi Perillo, que era tido por muitos tucanos como um presidenciável.
Fonte: 247
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