terça-feira, 6 de março de 2012

Prisão de Cachoeira abala governo Marconi Perillo


  No sentido horário, Carlinhos Cachoeira (no alto, à esq.), Marconi Perillo (PSDB), Jovair Arantes (PTB) e Demóstenes Torres (DEM) 
 
O bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso dia 29, nomeou dezenas de pessoas no governo goiano, também pagava políticos, empresários, policiais e jornalistas. O governador Marconi Perillo permanece calado.
O governador de Goiás, Marconi Perillo, vive dias de grande apreensão. O motivo é a prisão do bicheiro Carlos Augusto Ramos, Carlinhos Cachoeira, responsável pela máfia dos caça-níqueis, gestada a partir de Goiás e que atuava em cinco estados brasileiros. Cachoeira tinha grande influência sobre a área de segurança pública do governo goiano. O governador teria loteado a área de segurança pública a um dos maiores mafiosos do País. E, até agora, Perillo ainda não deu uma única declaração sobre a operação Monte Carlo.
Os cassinos de Carlinhos Cachoeira, em Goiânia e Valparaíso, tinham rendimento médio de R$ 3 milhões/mês, Cachoeira mandava na polícia, tinha jornalistas na sua folha de pagamento, mantinha uma rede de espionagem ilegal e nomeou dezenas de pessoas para o governo do tucano Marconi Perillo. Isso consta na decisão do juiz da 11ª Vara Criminal da Justiça Federal de Goiás: “descobriu-se a influência de CARLOS CACHOEIRA na nomeação de dezenas de pessoas para ocupar funções públicas no Estado de Goiás”.
De acordo com o documento de mais de 900 páginas, a máfia contaria com sofisticada espionagem política e empresarial, mediante supostas interceptações ilegais.Para a Justiça, o suspeito de liderar a quadrilha pode ser considerado o maior corruptor de agentes públicos encarregados da segurança pública de toda a história do estado de Goiás.
Na decisão, o juiz responsável pela décima-primeira Vara da Justiça Criminal de Goiás, escreve: “ao lado de 38 pessoas não vinculadas diretamente ao poder público, foram identificados 43 agentes públicos, distribuídos entre 6 delegados de polícia civil, 30 policiais militares, 2 delegados de polícia federal, 1 servidor administrativo de polícia federal, 1 policial rodoviário federal... envolvidos diretamente com a organização criminosa, a maior parte deles na sua ordinária folha de pagamentos”. Também foi apontada a relação da quadrilha com jornalistas.

Operação Monte Carlo
Na última quarta-feira (29), a Polícia Federal deflagrou a Operação Monte Carlo [nome do famoso cassino de Mônaco], que culminou com a prisão do Carlinhos Cachoeira e dezenas de policiais civis e militares, acusados de envolvimento na exploração ilegal de cassinos e máquinas caça-níqueis.
Em cerca de 200 horas de gravações telefônicas, captadas com ordem judicial, Cachoeira conversa com freqüência e intimidade com deputados federais de vários partidos e com o senador goiano Demóstenes Torres, líder do DEM no Senado Federal. De acordo com os investigadores, em julho do ano passado Carlinhos Cachoeira deu um generoso presente de casamento para o senador goiano: uma cozinha completa.
Entre os presos na Operação Monte Carlo, o ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia, Wladmir Garcez, era interlocutor freqüente do governador de Goiás. Segundo investigadores, Garcez trocou dezenas de torpedos pelo celular com o governador.
Nas escutas telefônicas, metade da bancada de Goiás na Câmara conversava habitualmente com Cachoeira. Entre eles, o deputado Jovair Arantes, líder do PTB na Câmara. Outro interlocutor habitual de Carlinhos Cachoeira é o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO), presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.

Governo de Goiás
O que se comenta em Brasília é que Cachoeira ajudou a bancar a campanha de Perillo ao governo de Goiás em 2010. Na sentença, o juiz da 11ª Vara também destaca que, ao desarticular a quadrilha de Carlos Cachoeira, foi possível descobrir uma imensa rede de espionagem ilegal.
A influência de Carlinhos Cachoeira no governo de Marconi Perillo também atingiria outra área vital: a Secretaria de Indústria e Comércio, onde trabalhariam seis parentes do bicheiro e do ex-presidente da Câmara Municipal. Também flagrado, o coronel Sergio Katayama disse que há crimes mais sérios a reprimir do que a jogatina.

Cachoeira
Carlos Cachoeira é talvez o mafioso mais audacioso do Brasil. No início do governo Lula, ele teve coragem de desafiar o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. Cachoeira trabalhava pela liberação dos bingos e tentava pressionar o governo petista, que se mostrava favorável à causa. Só que quando um assessor de Dirceu foi procurá-lo, Cachoeira decidiu filmá-lo pedindo propina.
Era Waldomiro Diniz, ex-subchefe da Casa Civil, que acaba de ser condenado a 12 anos de prisão. Como o caso teve destaque em todos os jornais, revistas e televisões do Brasil ainda em 2004, chega a ser piada o fato de um secretário de governo em Goiás declarar não saber o que Cachoeira fazia da sua vida.
* Do site do MCP

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