segunda-feira, 9 de abril de 2012

Abril Vermelho – Histórico


Pará, 17 de abril de 1996.  Após diversos apelos sobre a necessidade de uma urgente reforma agrária, cerca de 2500 pessoas partem, em marcha, de Marabá a Belém. No trajeto, decidem fechar a rodovia federal pela qual transitavam. Prontamente a polícia chega ao local e um acordo se estabelece: os manifestantes liberariam a via assim que ônibus chegassem e os levassem a Belém.

De um acordo pacífico, pouco tempo depois passaríamos a uma catástrofe. Cerca de 200 policiais, armados e sem identificação, chegariam dos dois lados da rodovia e encurralariam os manifestantes. Em meio a bombas de gás lacrimogêneo, tiros certeiros e uma ação bem coordenada – que visava matar os líderes do movimento –, os militantes defenderam-se como puderam. O resultado não poderia ser diferente: 19 mortos, aos quais, dias depois, somar-se-iam mais três mortos, feridos em combate. Este triste episódio ficou conhecido como o Massacre de Eldorado dos Carajás.

Em que pese as 22 mortes (algo sem preço), a repercussão nacional e internacional levou à desapropriação da fazenda da Macaxeira (hoje assentamento-modelo do MST e reivindicação da época), deu surgimento ao dia internacional da luta pela Reforma Agrária e expôs a latente e aberta cicatriz da situação desigual no campo. Para denunciar a desigualdade do campo e não esquecer de sua história, o MST, todo mês de Abril, intensifica suas ações, ocupando terras improdutivas e/ou passíveis de reforma. Dá-se o nome de Abril Vermelho a esta movimentação.

Mas, quem é o MST? Um dos maiores movimentos sociais do mundo, o MST reúne trabalhadores(as) as rurais que não possuem acesso à terra. Assim, prezando pela soberania nacional, pelo patrimônio coletivo e pela sanidade ambiental, o MST defende o acesso à terra de tod@s aqueles que nela trabalham, procurando estabelecer um uso social e mais racional desta – uso, este, que deve atender, primordialmente, à soberania alimentar.

Esta visão, no entanto, contrapõe-se ao modelo dominante: o agronegócio. Calcado nos latifúndios monocultores (cana, soja, pinus, laranja…), voltados à exportação de commodities – qualquer semelhança com as plantations NÃO é mera coincidência –, os dados assinalados demonstram o equívoco desse modelo. Quando as grandes propriedades são produtivas, o modelo 1) é altamente excludente, já que não fixa o homem ao campo e absorve pouca mão de obra – graças ao seu auto grau de mecanização –, e, 2) gera graves impactos ambientais, pressionando e levando ao desmatamento – como, atualmente, na fronteira amazônica –; substituindo a biodiversidade em prol da monocultura – como no Cerrado brasileiro, com a soja –, e, poluindo rios e solos, graças ao uso intensivo de agrotóxicos. Some-se, a isso, o fato do agronegócio não ser, necessariamente, mais produtivo e não estar voltado às necessidades básicas internas (estudos demonstram que 60 a 70% dos gêneros alimentícios destinados ao abastecimento do país procedem da produção de pequenos lavradores, que trabalham em base familiar).

Diante de tudo isso, trabalhadores(as) deste e demais movimentos sociais optam por não se calar. Mas tal escolha possui um alto preço: a forte criminalização dos movimentos sociais. O caso mais recente diz respeito ao assassinato de 4 seguranças de uma fazenda, realizadas por militantes do MST, em Pernambuco. Mais uma vez, porém, alguns detalhes foram esquecidos. Não foi dito que tais jagunços vinham ameaçando os militantes do movimento há algum tempo e que estes tiveram de escolher entre a sua vida e a dos jagunços. Presidentes do STF e da República classificaram a ação como intolerável. Mas, se assim é, o que dizer dos mais de 1300 trabalhadores rurais mortos nos últimos 20 anos, como Chico Mendes e a Irmã Dorothy; ou do Massacre de Eldorado dos Carajás – em que seus executores, apesar de julgados culpados, estão soltos? Ou ainda da violência que é cometida contra os trabalhadores dos canaviais – que dão seu sangue em nome da energia ambientalmente correta.

Assim, diante de uma Reforma Agrária que teima em não sair – de acordo com Bernardo Mançano, o governo Lula anuncia mais assentados do que de fato ocorre –, do apoio explícito dos governos federal e estadual ao agronegócio (algo equivocado) e partindo de uma visão diferente de desenvolvimento, o DCE apóia a luta do MST e demais movimentos sociais

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